
Rafael Sliks era criança nos anos 80, amava HQ, filmes de artes marciais, skate e pixação.
Do singelo bairro da bela vista, região central de São Paulo, onde nasceu e cresceu, olhava o vasto mundo por uma fresta do portão de sua casa.
Do pixo ao grafitti, do handstyle às tags, chegou aos ensaios abstratos que hoje marcam suas habilidades, “skills” que utiliza com escritas invertidas levaram ao seu codinome: Sliks.
Para ele, escrever é representar o falado, o pensado. “a escrita de mão”, poemas e músicas que cria mentalmente se refletem em suas ideias abstratas, texturas tangíveis, formas imaginadas.
No âmago do trabalho representações de seus poemas, músicas que espelham o caos das grandes cidades, encantos da natureza selvagem, expressões puras e ao mesmo tempo carregadas de camadas de microorganismos, odores, cores, luminsescências.
A equação criativa de Sliks resulta de sua constante viagem para dentro e fora de si mesmo. Nos resultados a pesquisa constante, o estudo focado da história da arte, vivências em seu estúdio e pelas ruas do mundo, a criação de um estilo pessoal, que agrega as sinaléticas de Lascaux, ideogramas orientais, segredos de Da Vinci, devaneios de Magrite, ousadias de Yves Klein.
Sua obra, em catarse permanente, parte do gesto, uma grande influência no graffiti, skate e dos movimentos inspirados no tao, nas caligrafias orientais e guarda o abstracionismo como senha, com ritmo contínuo e olhar essencial.
Herdeiro do expressionismo abstrato, da escrita automática dos surrealistas, sua arte recupera garatujas da infância, traz à superfície seu universo de gestos rápidos e lampejos de ação furtiva.
Sua figura sutil e vestida de mistérios distribui abstrações e escritas à mão livre pelas ruas e becos, entre texturas e obstáculos uma arte que inspira, que seduz pela leveza e enriquece sua sina de artista visual urbano contemporâneo.
Paulo Klein
Abca – Apca – Aica – Outono, maio 2020.